O espaço da dança na escola hoje, apesar de ter sido afirmado como uma linguagem artística nos Parâmetros Curriculares Nacionais da Arte e uma atividade rítmica e expressiva nos Parâmetros Curriculares Nacionais da Educação Física, ainda não é restrito. Sua importância não é compreendida como essencial, o que faz os educadores em dança tornarem advogados para defender o valor de seu trabalho.
Muitas são as perguntas em torno da dança-educação:
Na escola, em que disciplina a dança seria ensinada? Arte? Educação Física? Será que estaria na hora de pensarmos uma disciplina exclusivamente dedicada a dança? Ou ainda, será que deveríamos deixar o ensino da dança à informalidade da rua, (..) Mas o que é afinal a dança na escola? Área de conhecimento? Recurso Educacional? Exercício Físico? Terapia? Catarse? E... quem estaria habilitado para ensinar dança? O bacharel em dança? Ou este bacharel deveria, necessariamente, ter cursado licenciatura? O licenciado em Educação Física? O licenciado em Educação Artística? Os artistas? Os pedagogos estariam aptos a ensinar essa disciplina nos primeiros ciclos do Ensino Fundamental? Enfim, que nome daríamos a dança na escola? (MARQUES, 2003, p. 16).
Essas perguntas resumem bem os diferentes entendimentos em torno da dança e sua pluralidade, que tem sido agora bem discutidas devido às criações dos conselhos profissionais. Polêmica a parte, voltemos à pergunta chave que este texto procura investigar: por que dança-educação?
Visto que trata-se da importância da dança no ensino formal, acredita-se ser interessante iniciar esta discussão revendo qual a função da escola em si, para que possa pensar a dança como um meio ou não das finalidades gerais da escola.
(...) A escola realmente socializa e democratiza o conhecimento? Seria apenas uma utopia? Estaria a escola realmente promovendo a igualdade de oportunidades ou reafirmando as diferenças sociais?
(...) A escola realmente socializa e democratiza o conhecimento? Seria apenas uma utopia? Estaria a escola realmente promovendo a igualdade de oportunidades ou reafirmando as diferenças sociais?
Colocou-se, portanto, duas razões como funções da escola, sendo a primeira a transmissão do conhecimento para preparar o indivíduo para o mundo do trabalho, e a segunda, a preparação do indivíduo para a participação democrática na vida política e social.
Pensando em termos de dança, faz sentido que a dança faça parte do ensino, pois ela é um conhecimento acumulado pela cultura e deve ser repassado. Mas e o mundo do trabalho? Estaria uma pessoa que participou dança na escola preparada para ser artista ou mesmo para lecionar informalmente dança no mercado? Provavelmente do jeito que ela anda, não. (...)
Pensando em termos de dança, faz sentido que a dança faça parte do ensino, pois ela é um conhecimento acumulado pela cultura e deve ser repassado. Mas e o mundo do trabalho? Estaria uma pessoa que participou dança na escola preparada para ser artista ou mesmo para lecionar informalmente dança no mercado? Provavelmente do jeito que ela anda, não. (...)
(...) Peres Gómez (1998, p. 22-24) coloca duas visões quanto funções da escola hoje, que se encontra na tensão dialética entre reprodução da tradição e mudança em busca de soluções mais satisfatórias. (...) Seria muita pretensão achar que a escola promove a igualdade de oportunidades. Como exigir o mesmo nível de leitura de uma criança que foi estimulada desde cedo pelos pais a ler, enquanto outra tem pais analfabetos Pode-se especular ainda sobre como a dança contribuiria para uma participação ativa na vida social e a preparação para o mundo do trabalho. A dança que é proporcionada para alguns via ensino informal e para muitos outros fica na não informalidade das ruas.
O mesmo autor coloca também, como função da escola, “a reconstrução do conhecimento e da experiência”. Isto envolve o reconstruir conhecimento e pautas de conduta, ou seja, diagnosticar as pré-concepções questioná-las, compara-las e então reconstruí-las criticamente. As pessoas hoje já chegam à escola com um campo vasto e diverso de conhecimento que adquiram na televisão, na internet, nos livros, na rua, nas relações de grupo. Alguns destes conhecimentos são preconceituosos e distorcidos. Cabe a escola sondar e reconstruir uma visão mais crítica sobre esses conhecimentos. Na dança, quantas pré-concepções são aprendidas fora da escola. A mais difundida é que dança é coisa de mulher.
Poderia então da dança atenuar as diferenças e reconstruir conhecimento e pautas de condutas criticamente? Sim, se o professor tiver em mente que seu ensino vai visar isso.
Sabe-se que a vida na sala de aula é um cenário vivo de interações onde se intercambiam explícita ou silenciosamente idéias, valores e interesses diferentes. Sabe-se que o que a criança leva da escola não é o conteúdo memorizado, mas com certeza leva a experiência positiva de ser bem aceito entre os colegas ou a experiência negativa de ter sido excluído como burro, “nerd”, gordo, descoordenado, entre outros rótulos. Proporcionar vivências positivas em dança, isto é, vivências que não visem somente o virtuosismo técnico e o corpo perfeito, pois estas qualidades são restritas a poucos, onde todos tenham a possibilidade de lançar na frente e serem estimulados no que tem de melhor, pode ser um meio para intervir positivamente.
A dança pode valorizar a pluralidade das danças assim como das formas de viver, pode fomentar as diferenças individuais de corpo, raça e sexo propostas pelas diversas danças, que por si só são diversas entre si, já que estas nada mais são do que a expressão única e original das diferentes sociedades. Pode, portanto exercitar a tolerância e o diálogo dos diferentes pontos de vista, criando um clima de compreensão e solidariedade que será incorporado para sua vida real.
Vê-se então, que a dança cumpre as funções da escola, tendo as funções de atenuar as diferenças, reconstruir conhecimentos de vida e as pautas de conduta criticamente, a dança como parte curricular é uma ferramenta que tem se enriquecido e subestimada.
Não queremos dizer que a dança tem mais ou menos valor do que outros componentes do currículo escolar, mas que tem o seu valor próprio, que é inestimável e importantíssimo.
(...) A dança pode melhorar a auto estima, a coordenação motora, porém ela tem um conteúdo que lhe é próprio e que nenhuma disciplina mais provém, e que por si só poderia fomentar outro artigo.
Um destes conteúdos é sem dúvida, a consciência dos movimentos corporais. (...) Na dança, mergulhamos no processo mesmo da ação, enquanto em outras atividades, seja no âmbito do esporte ou no trabalho, nossa atenção se centraliza principalmente nas consequências práticas do movimento. Embora as seqüências de movimento de todas as atividades físicas exijam o esforço, específico da pessoa que se move, nesta última, a conseqüência do processo da lugar à sua concentração no âmbito externo. Quando criamos e nos expressamos por meio da dança, quando executamos e interpretamos seus ritmos e formas, preocupamos-nos exclusivamente como seu material, que é próprio do movimento.
(...) Enfim, movimento corporal para ser dança exige consciência do processo do movimento.
Como a dança também é arte, ela esta vinculada à criatividade.
(...) Estaria a dança sendo criativa? Como podemos utilizar esse pressuposto da arte se algumas vezes nos deparamos com a rigidez técnica, codificada e institucionalizada de certas formas de dançar? Sabemos que a dança subverteu a ordem por várias vezes no decorrer da história, encurtando saias, dançando descalço, sem música, etc. Numa escala mais próxima, quantas vezes vamos ao teatro e nos chocamos como o novo. Indagamos se seria arte ou apenas mau gosto.
(...) Estaria a dança sendo criativa? Como podemos utilizar esse pressuposto da arte se algumas vezes nos deparamos com a rigidez técnica, codificada e institucionalizada de certas formas de dançar? Sabemos que a dança subverteu a ordem por várias vezes no decorrer da história, encurtando saias, dançando descalço, sem música, etc. Numa escala mais próxima, quantas vezes vamos ao teatro e nos chocamos como o novo. Indagamos se seria arte ou apenas mau gosto.
A dança como arte subverte a ordem e a dança é criativa. Mas, nem por isso deve-se combater as técnicas codificadas na sala de aula. Para se desconstruir e criar em dança é preciso um corpo forte, com experiências em diversas formas de movimentação corporal. Um corpo treinado pode negar a técnica e buscar novas formas de movimentação (...). Na escola, um ensino de qualidade terá o aprendizado da técnica correndo em paralelo com as experiências criativas. Isto promoverá além do trabalho de consciência do processo do movimento corporal um ganho na capacidade criativa do aluno.
(...) E afinal, por que dança na escola? Porque além de ela ser uma ferramenta para suprir as funções e propósitos da escola em si ela lida com conhecimentos próprios, que vão além de benefícios proporcionados por outros componentes do currículo, como a consciência do processo do movimento, o fomento da criatividade do indivíduo através do movimento e o incentivo ao sentir tão necessário para que se construa ativamente um conhecimento significativo.
(...) A educação é direito de todos e todos tem o direito de conhecer a dança de uma forma séria, não só como decoração de programas de auditório e festinhas na escola. A educação em dança é direito de todos e deve estar na escola.
Texto de Flavia Pilla do Valle
Texto de Flavia Pilla do Valle
Fonte: Artigos da ULBRA
2 comentários:
Oi Flávia! Obrigada pela visita. Eu realmente vou me esforçar para fazer um blog interessante, respeitando a dança como expressão cultural séria, com ênfase na dança do ventre, que eu pratico e amo, mas que infelizmente é vista como inferior pelo público em geral e por bailarinos de outras danças.
Gostei muito do seu blog e vou passar a acompanhá-lo também.
grande beijo
Gostei do seu blog, ficou muito bem feito.
Um abraço!
Daniel A. S.
http://daniel.a.s.zip.net
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